sexta-feira, 28 de junho de 2013

Felicidade

"Haverá o dia que você não haverá de ser feliz", canta Marcelo Jeneci. E, normalmente, esses dias tristes são muito mais contantes do que os felizes.Não sei se pra vocês, mas pra mim sim.
É quando você ouve alguma coisa que não gosta de alguém que você ama muito. Ou quando, lá no trabalho, acontece um fato que você considera injusto. Ou dá saudade de alguém que você não pode mais ter, nem ver, nem ouvir. A flor que você cultiva com tanto carinho morre. Seu cachorro está longe. Você não tem forças pra limpar a casa, que está fedendo de tanta bagunça. Quer algo material que ainda não pode comprar. Qualquer outra coisa mais séria. Ou menos séria. O fato é que o ser humano é triste, na maioria do tempo. Mas tem resquícios de felicidade no meio do caminho.
E você, um belo dia, acorda sorrindo. Teve um sonho bom. Comeu um doce. Falou com alguém que não tinha notícias havia tempo. Visitou um berçário! E você percebe, então, que "felicidade é questão de ser".
Para Sophia e todos os bebês que virão.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

É compreensível que se sofra a ausência de uma pessoa pelas redes sociais. A falta é tão dolorosa que se quer eternizar um pedacinho da pessoa escrevendo, postando fotos, lamentando eternamente. Não o faço porque acredito que não devemos ser egoístas a esse ponto. Minha crença é essa: quanto mais a gente sofre e chama daqui, mais a pessoa não aceita estar lá. E é por isso que não lamento todos os dias pelo Facebook.
Já perdi algumas pessoas importantes na minha vida, mas nenhuma faz a falta que tenho da minha avó Irene. Não nos dávamos bem. Eu não tinha paciência com ela, que queria me controlar o tempo todo. Foram várias brigas homéricas. Maço de dinheiro jogado no chão. Chacoalhões e tapas na cara. Mas tínhamos nossos bons momentos, e na maioria do tempo estávamos bem. Sentávamos na sala para assistirmos juntas algum programa de tevê, almoçávamos falando de algum acontecimento da cidade... De vez em quando ela me dava algum susto, como na noite em que saiu para jogar baralho na vizinha, como de costume, mas só voltou às 5h30 da manhã. Fiquei acordando de hora em hora, preocupada com sua demora. Certo dia estava na piscina com minhas amigas, que ficaram botando pilha para que ela viesse nadar com a gente. Colocou seu maiôzinho e pulou de ponta na piscina. Soltei um grito de medo dela bater a cabeça no fundo, mas saiu nadando feito um tranquilo peixinho.
Quando ela se foi, fiquei uns meses sem rezar a noite, um costume que tenho desde criança. Culpava Deus de tê-la levado de nós. Mergulhei numa dor estranha, não acreditava que seria feliz outra vez. Não fiquei doente, mas também não me sentia bem em nada do que fazia. O tempo passou e entendi que Deus não tem culpa de nada, que as pessoas morrem quando ficam velhas e que ela já tinha feito o suficiente por mim. Então ficou uma espécie de amadurecimento, uma fase finalizada da vida. O amor não morre. A ausência permanece. A vida nunca mais volta a ser o que era. Mas temos que fazer uma escolha. Ou nos prendemos àquela dor ou seguimos com nossas vidas. Há muitas pessoas que virão para amarmos, há novos caminhos para trilharmos, há sempre a sabedoria deixada por essas pessoas para nos espelharmos.
Não me apego ao sofrimento por sua ausência, mas a falta que ela faz para minha família- e para mim- está sempre aqui. O cheiro da sua roupa de cama, da sua toalha, das suas coisas, eu nunca mais vou sentir. E é o que mais estou sentindo falta neste momento.