quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Politicamente Incorreto

A Revista TPM deste mês publicou um texto falando sobre infância politicamente incorreta, já que no passado não existiam preocupações que hoje aterrorizam tantas mães por aí.
Depoimentos de pessoas ligadas à revista contavam que tomavam café com leite e açúcar na mamadeira, acendiam o cigarro pra mãe e dormiam em bares boêmios. Houve uma IDENTIFICAÇÃO IMEDIATA de minha parte, pois minha irmã e eu provavelmente fomos as crianças mais politicamente incorretas dos anos 90.
Pra começo de conversa, meus pais eram supernovos e adoravam sair. Meu tio tinha um bar (boteco mesmo) e a família se reunia toda sexta-feira, fazendo com que eu dormisse dentro do carro por muitas e muitas madrugadas.
Aos domingos íamos na vó Ywone e enquanto a família conversava e brigava assistindo Os Trapalhões, eu sumia com meus primos, entrava escondido no SESI e andava de patins na quadra de basquete até o guarda chegar. Sem contar as festas de reveillons na casa das tias solteironas, quando saíamos de madrugava pedir "bom princípio de ano novo" aos vizinhos ricos. Minha tia uma vez levou um cigarro de menta, novidade na época, e adorei dar uma tragadinha e sentir aquele gostinho de bala. Aos 10 ou 11 anos.
A Mariana quando entrou na adolescência foi um caso especialíssimo a ser estudado. Forrou uma parede do quarto com recortes de revista e fugiu com 13 anos para São Paulo pra ver o show dos Ramones. Meus pais não deram a mínima... nessa época eu não lembro muito bem dela ficar em casa. Ela sumia e aparecia uns 3 dias depois pedindo dinheiro.
Quando íamos passar as férias em São Pedro era uma alegria. Aline e Edson SUMIAM pros bailes da vida e acordei muitas vezes sozinha em casa no meio da noite, já que a cidade era pequena e não oferecia perigo. Minha vó Irene promovia jogos do copo com os amigos adolescentes da Mariana, que apareciam 3 horas da manhã para fazer um lanchinho.
Mas o caso mais politicamente incorreto da minha infância aconteceu comigo.
Quando eu estava na terceira série, organizaram um concurso de dublagem na minha escola e minha mãe resolveu ensaiar eu e minhas amiguinhas. Poderíamos ter ensaiado Xuxa, Paquitas ou sei lá que grupo infantil tinha na época, mas é claro que mamãe ensaiou Paradise City, do Guns and Roses. Eu era o Axl e usava um shortinho de lycra amarelo, uma camiseta cavada e uma bandana com estrelas estampadas. Minha amiga Liliane era o Slash e minha mãe a despenteou e arrumou uma cartola. Pra completar o look, enfiou um CIGARRO na boca da menina. Lógico que todo mundo vaiou, inclusive minha professora do pré. Mas isso não nos impediu de ganhar, já que os jurados eram todos amigos e professores da minha irmã, que era a apresentadora do concurso. Esse foi meu maior trauma de infância e vocês não imaginam a dificuldade que tive pra descrever a situação.
Hoje em dia, assim como foi publicado na TPM, as preocupações são maiores ao ponto de uma simples mamadeira de café com leite e açúcar se tornar algo proibido para uma criança. O que posso dizer é que antigamente as coisas eram muito mais divertidas- e muito mais rock´n roll.

3 comentários:

  1. Dê os parabéns pros seus pais e vcs duas viraram excelentes seres humanos. Quero ver essa geração de açúcar qdo crescerem... o politicamente correto vai gerar um bando de bunda mole.

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  2. O João só toma leite com café e o Matias leite com groselha, que ele diz ser uma delícia. O João fala muito palavrão e eu quase morro de vergonha. Eles assistem filmes violentos e eu e o Neto deixamos eles sozinhos em casa de vez em quando pra ir no mercado, sempre rapidinho.Quando o Matias fez 1 ano, eu deixer ele tomar um gole de vinho e sempre divido sorvete de amarula com ele - que contém alcool. Eles gostam de "Bichos Escrotos" porque fala "vai se fuder". Mas aprendem a compartilhar tudo. E são amigos. E são felizes.

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  3. eu também li essa matéria da tpm e lembrei que minha tia cidinha enfiava meus primos e eu no porta-malas (!) de um gol 86 e rumava para ubirajara pela estrada de areia fofa. ela ia para ubirajara lavar o túmulo do marido e do sogro (!!), enquanto isso nós ficávamos correndo e pulando em cima dos outros túmulos (!!!).
    a kaká tem hiperflexibilidade articular no joelhos, na infância eles dobravam para fora e ninguém dava a mínima nem pensava em ortopedista e muito menos sabia o que é hiperflexibilidade articular.

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